CONHEÇA O DOCUMENTO DA SANTA SÉ SOBRE A IDEOLOGIA DE GÉNERO

CONHEÇA O DOCUMENTO DA SANTA SÉ SOBRE A IDEOLOGIA DE GÉNERO

A Santa Sé, através da Congregação para a Educação Católica, acabou de lançar um importante documento que orienta os cristãos e as Instituições Católicas para o grande desafio da Ideologia de Género e a sua tirânica imposição que visa globalizar, em todas e mentes e culturas, mentiras que à custa de tanto serem repetidas, começam a ser confundidas como se fossem verdades. Uma ideologia enganadora, como já fizemos questão de afirmar neste site (ver aqui), que extravasa os domínios da ciência, e que em nome das liberdades individuais esconde totalitarismos utópicos e materialistas, exacerbando sentimentos que acabam por transtornar e perverter a própria natureza e a verdade do ser, sustentados numa ditadura ideológica sem qualquer base científica.[1]  O texto, agora tornado público, intitulado  « HOMEM E MULHER OS CRIOU » PARA UMA VIA DE DIÁLOGO SOBRE A QUESTÃO DO  GENDER NA EDUCAÇÃO (ver aqui) foi assinado no dia 2 de Fevereiro pelo Cardeal Versaldi, Prefeito dessa Congregação, que afirmou em entrevista fundamentar-se na identidade cristã, “traduzindo a luz que vem da fé em argumentos racionais”. Procura, deste modo, “caminhos de diálogo sobre o gender sem cair nos slogans e nos extremismos” uma vez que “há muita confusão e nas escolas corre-se o risco de impor-se um pensamento único como científico”. Adverte ainda que a Igreja respeita a todos, mas pede também respeito pelas suas opiniões.[2] Trata-se, portanto, de uma reflexão e orientação diante de um desafio ideológico que vai penetrando na educação dos jovens e das crianças, na legislação de diversos países e nas várias mentalidades e culturas (cf. n.1-3).

O texto da Santa Sé alerta para essa espécie de “pensamento único”, que visa determinar, conforme o Papa Francisco, “até mesmo a educação das crianças” (Amoris laetitia, n. 56). E começa por identificar na História mais ou menos recente esta realidade, que “traz consigo as primeiras conceções de gender, por um lado assente numa leitura puramente sociológica da diferenciação sexual e por outro sob a influência da liberdade individual” (n. 8). A identidade sexual deixou então de ser considerada como um dom originário, natural e biológico, tornando-se uma construção social, e o amor livre, hedonista e voluntarista dispensaria a complementaridade dos sexos e o contexto familiar e procriativo. Estas teorias radicalizaram-se sobrepondo o género (construído) ao sexo (masculino ou feminino), visando uma sociedade onde ninguém nasce homem ou mulher, mas cada um constrói uma identidade que pode assumir múltiplas formas determinadas pelo indivíduo. (n. 8-11). O gender conflui então no queer, isto é, “numa dimensão fluida, flexível, nómada”, e consequente perda das classificações existentes (n.12) para novas, numa lista que tende a aumentar… Um desejo de liberdade e de autodeterminação que reivindica e visa acolhimento na legislação a garantia de tais direitos (n. 13-14).

A Igreja compreende hoje a necessidade de uma igual dignidade entre o homem e a mulher e o respeito por cada pessoa, independentemente das suas diferenças, e a necessidade de educar para tal (n. 16-17). Procura também valorizar uma leitura mais realista e devedora relativamente ao papel da mulher (n. 17-18). Mas isto não significa que tenha de prescindir de uma crítica justa a um extremismo ideológico que visa introduzir a radicalidade para cobrir uma fragilidade, não conduzindo propriamente a uma consideração equilibrada da realidade e a uma harmoniosa solução, para poder levar adiante o seu programa ideológico, social e humanamente desconstrutivo. A Santa Sé aponta alguns dos problemas:

– “As teorias de gender indicam – especialmente as mais radicais – um processo progressivo de desnaturalização ou distanciamento da natureza dirigindo-se para uma opção total pelas decisões do sujeito emotivo”. Uma ideologia “fundada somente sobre uma liberdade do sentimento e do querer mal compreendida mais do que sobre a verdade do ser; sobre desejo momentâneo da pulsão emotiva e sobre vontade individual” (n. 19);

– “Dualismo antropológico: separação entre corpo reduzido à matéria inerte e a vontade que se torna absoluta, manipulando o corpo para o seu próprio prazer. Este fisicismo e voluntarismo dão lugar ao relativismo, onde tudo é equivalente e indiferenciado, sem ordem e sem finalidade” (n. 20);

– “O conceito genérico de ‘não discriminação’ esconde uma ideologia que nega a diferença e a reciprocidade natural entre homem e mulher […] Esvazia-se – deste modo – a base antropológica da família. (n. 21);

– “A identidade humana é entregue a uma opção individualista, mutável com o tempo, expressão do modo de pensar e agir, hoje difundido, que confunde ‘a liberdade genuína com a ideia de que cada um julga como lhe parece, como se, para além dos indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam, como se tudo fosse igual e tudo se devesse permitir’” (n. 22).

O documento remete em seguida para argumentos racionais, tais como a diferença sexual entre homem e mulher ser comprovada pela ciência: “a genética, a endocrinologia e a neurologia. Do ponto de vista genético, as células do homem (que contêm os cromossomas XY) são diferentes daquelas da mulher (a que equivalem os cromossomas XX) desde a conceção”. Lembra ainda que no caso de indeterminação sexual cabe à ciência médica intervir, não se devendo relegar situações específicas para escolhas arbitrárias ou construções sociais (n. 24). Introduzir ao processo de identificação outras categorias possíveis, leva muitas vezes a um sofrimento maior e a ambiguidades (n. 25). O documento parte em seguida para o campo da filosofia, o grande legado sapiencial, lógico e fundamental que nos foi deixado (n. 26). Salienta, ademais, a importância da família, de um pai e de uma mãe, para a partir da diferença sexual, de acordo com teorias psicanalistas, a criança firmar-se na sua identidade (n. 27-28). Por fim, propõe uma antropologia cristã fundada na criação do homem por Deus, à sua imagem, “homem e mulher os criou” (Gn 1, 27), relação e reciprocidade, diálogo e comunhão, que se completam mutuamente, parentalidade sem a qual não há geração (n. 31-35). À família, pai e mãe, compete o dever de educar para o amor, um dever “insubstituível e inalienável, e portanto, não delegável totalmente a outros ou por outros usurpável” (n. 36-37). Numa cultura que banaliza a sexualidade humana, “é precisamente no interior do próprio núcleo familiar que a criança pode ser educada a reconhecer o valor e a beleza da diferença sexual, da paridade, da reciprocidade biológica, funcional, psicológica e social” (n. 38).

A escola poderá subsidiar a família, cabendo de modo especial às Instituições católicas, formar integralmente, propondo os valores cristãos, e entre eles, a fé (n. 39-41). Segundo o documento da Santa Sé, a formação para a afetividade das crianças e jovens deve ter em conta que eles “não alcançaram a plena maturidade” e deve-se ter cuidado para não os desorientar com mensagens ambíguas e vagas “perante uma invasão de propostas, perante a pornografia descontrolada e a sobrecarga de estímulos que podem mutilar a sexualidade” (n.42). Perante também, uma crise matrimonial e consequentemente social (n. 43-45). Este documento é extremamente útil para todos os formadores e educadores a quem deixa normas precisas e enriquecedoras, pedindo-lhes um conhecimento sobre os perigos da ideologia de género (n. 47-49), uma visão clara que ajude a formar, a dialogar, e a oferecer materiais didáticos sobre esta matéria (n. 50-51). Desafios que a comunidade católica deverá transformar em oportunidades e numa vida concreta que testemunha aquilo que ensina (n. 54). É o futuro que está em causa, e o texto que a Santa Sé nos oferece ajuda-nos a pensá-lo, e a edificá-lo, partindo das novas gerações que nos foram confiadas.

P. José Victorino de Andrade

FONTE: https://aportesdaigreja.com/2019/06/12/conheca-o-documento-da-santa-se-sobre-a-ideologia-de-genero/?fbclid=IwAR2rg8fiqbhxY4tbX2y5Yuo-4Q9mWcOpdoLvfN4cKZRAwmhpx8JMuC-sx-k