DÉCIMO SEXTO DIA - RECONHECER CRISTO E VOLTAR PARA O NOSSO LUGAR, A CASA DE DEUS

DÉCIMO SEXTO DIA - RECONHECER CRISTO E VOLTAR PARA O NOSSO LUGAR, A CASA DE DEUS

“Acendei em nosso coração, ó São Miguel Arcanjo, o desejo de morar eternamente na casa de Deus. Que nossa alma não sinta saudade das riquezas passageiras deste mundo, cheio de tristeza e tormentos, mas aspire sempre o Deus vivo, Senhor do céu e da terra. Amém!”

(Fonte: Quaresma de São Miguel Arcanjo 2020 – Ed. Paulus)

A chamada “Teoria do Lugar Natural” diz que tudo tende a voltar para o seu lugar natural, lugar de origem, lugar o qual pertence, lugar que estará em equilíbrio. Com a nossa alma podemos dizer que acontece basicamente isso. Nossa alma deseja voltar ao seu lugar de origem, ao seu lugar natural, ao seu lugar de equilíbrio. Voltar para Deus.

Nós fomos criados por Deus, para Ele, para vivermos Nele, em total harmonia e equilíbrio. Mas, por causa do pecado caímos saímos desse equilíbrio e harmonia. Caímos. Ora! Para constatar que sempre estamos inquietos, buscando “algo”, nunca nos satisfazemos, é só olharmos para nós mesmos. Para entender que somente Deus pode harmonizar e equilibrar nossa alma, basta olharmos para a vida dos Santos, comparar com a nossa e notar como eles são muito mais satisfeitos do que nós, mesmo desejando ardentemente voltar para Deus e gozar da Felicidade Eterna.

A nossa inquietude não cessa e não sabemos como nos aquietar. Ficamos às “apalpadelas”, meio que jogando numa “loteria da felicidade”, para ver se algo nos satisfaz. E nos inquietamos ainda mais com isso… Já os Santos, comparados a nós nessa inquietude, são bem serenos. Só Deus basta! Os Santos sabem do que precisam e esperam em Deus. Sim! A alma está inquieta, mas sabendo para onde vai. Seria mais como uma ansiedade para se satisfazer completamente já sabendo que vai se saciar quando chegar o momento oportuno.

Nós nos inquietamos com o “como nos satisfazer”. Os Santos, na Fé e na Esperança, se inquietam com o “quando finalmente vão se satisfazer”. Na Carta de São Paulo aos Filipenses isso fica muito claro.

“A minha expectativa  e esperança é de que em nada serei envergonhado. Pelo contrário, com toda a confiança, como sempre, também agora Cristo será engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer é lucro. Ora, se, o viver no corpo produz para mim uma atividade frutuosa, então já não sei o que escolher. Estou num grande dilema: desejo partir para estar com Cristo – o que para mim é muito melhor -, mas, por vossa causa, é necessário continuar no corpo. Certo disto, sei que vou permanecer e continuar convoco, para o vosso progresso e alegria da fé, a fim de que o motivo de vos gloriardes por mim cresça em Cristo Jesus, por meio de meu retorno ao vosso meio”. (Fl 1, 20-26).

O desejo maior de São Paulo é que Cristo seja glorificado (e por amor a Cristo) e deseja ardentemente, e espera (de esperança) que Cristo será glorificado nele, por meio dele. Ele quer se unir logo a Cristo, mas entende que por amor a Cristo, por amor pelo próximo – em Cristo, por Cristo e com Cristo – é preciso que ele ainda padeça um pouco mais. Padeça fisicamente por amor ao próximo, porque precisam, e para que Cristo seja glorificado nesse padecimento (e retorno, ser salvo do padecimento físico). Entende que ele também precisa padecer no seu desejo de que a alma volte para o Criador, mas não sem que Ele seja glorificado no apóstolo dos gentios.

No episódio dos Discípulos de Emaús, podemos ver essa inquietude, primeiramente a ruim, a inquietude de quem não sabe para onde ir e repousar. Depois a inquietude boa, já direcionada, já sabendo exatamente o que deseja e o que satisfaz plenamente.

“Quando chegaram perto do povoado para onde se encaminhavam, ele fez de conta que ia adiante. Eles, porém, insistiram: ‘Fica conosco, pois já é tarde e o dia está declinando!’ Ele entrou para ficar com eles. Depois que pôs a mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles. Então os olhos deles se abriram e o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles. E diziam um para o outro: ‘Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos abria as Escrituras?’ Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram a Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e outros discípulos.” (Lc 24, 28-33)

Os discípulos estavam tristes (cf. Lc 24,17) e estavam ficando cada vez mais distante do que poderia aquietar o seu coração (cf. Lc 24,13). Mas, Deus sempre vem ao nosso encontro quando nos afastamos Dele (cf. Lc 24,15), mesmo que não o reconheçamos (cf. Lc 24,16). E, em sua infinita misericórdia, Deus pacientemente nos exorta e nos instrui (cf. Lc 24, 25-27).

Enquanto ele nos instrui, vai mudando o tipo de “inquietude”. A ação de Deus em nós abrasa o nosso coração, incendeia a nossa alma e a inquietude fica diferente. Em vez de angústia, uma procura às cegas, passa a ser uma esperança, uma espera orientada na certeza do que precisamos e que vamos ser saciados no tempo oportuno.

Inicialmente ficamos com o coração abrasado, na sensação de estar se aproximando o encontro, mas quando as escamas dos nossos olhos caem e reconhecemos Jesus, a alegria toma conta e logo queremos voltar para o lugar correto. Cabe ressaltar que os discípulos tiveram as escamas dos olhos retiradas na Eucaristia, quando reconheceram Jesus. Vale ressaltar também que eles voltaram para a Igreja, para os apóstolos reunidos.

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate e ajudai-nos a Reconhecer Cristo e Voltar Para o Nosso Lugar, a Casa de Deus.